Liberdade - Conto



NA SEGUNDA-FEIRA

Chega às sete horas para fazer o café dos patrões. Em seguida, guarda os objetos espalhados, estende a cama, varre a casa, aspira o pó dos tapetes, encera o chão, desinfeta o banheiro. Depois, tempera e cozinha os alimentos para o almoço. Serve. Come faminta. Lava a louça, dá brilho às panelas, esfrega o fogão, lava e passa a roupa. Prepara os alimentos para o jantar. Limpa a cozinha. E, finalmente, vai exausta.

NA TERÇA-FEIRA

Cansa às sete horas. Faz o café dos patrões. Guarda os objetos fatigados, estende a cama, varre a casa, aspira o pó dos tapetes, encera o chão, desinfeta o banheiro. Tempera e cozinha os alimentos para o almoço. Serve silenciosa. Come acabrunhada. Quebra a louça, dá brilho às panelas, esfrega o fogão, lava e amassa a roupa. Prepara os alimentos para o jantar. Limpa a cozinha. Vai embora alterada.

NA QUARTA-FEIRA

Sofre às sete horas. Faz o café amargurado. Guarda os objetos cansados, varre a cama, estende a casa, aspira o pó dos tapetes sublevados, encera o chão oprimido, desinfeta o banheiro. Destempera e cozinha os alimentos para o almoço. Serve acabrunhada. Come silenciosa. Quebra a louça desanimada, dá brilho às panelas revoltadas, esfrega o fogão, lava e amassa a roupa. Desprepara os alimentos para o jantar. Limpa a cozinha. Vai embora combalida.

NA QUINTA-FEIRA

Sufoca às sete horas. Limpa o café amofinado. Guarda os objetos exauridos, varre a cama, estende a casa, aspira o pó dos tapetes revoltosos, faz o chão oprimido, destempera o banheiro. Encera e cozinha os alimentos para o almoço. Chora silenciosa. Quebra desanimada. Esfrega a louça, dá brilho às panelas insurgentes, come o fogão apático, lava e amassa a roupa. Desinfeta os alimentos para o jantar. Destempera a cozinha. Vai embora transtornada.

NA SEXTA-FEIRA

Agoniza às sete horas. Quebra o café oprimido. Come os objetos amassados, varre a cama, estende a casa, esfrega o pó dos tapetes insurrectos, faz o chão atormentado, tempera o banheiro solitário. Encera e cozinha os alimentos para o jantar envenenado. Chora humilhada. Limpa alucinada. Desinfeta a louça, desfaz o brilho das panelas rebeldes, aspira o fogão insensível, lava e cansa a roupa. Guarda os alimentos para o almoço. Abomina a cozinha. Vai embora definhada.

NO SÁBADO

Morre às sete horas. Chora o café desvairado. Guarda os objetos delirantes, varre a cama, estende a casa, esfrega o pó dos tapetes amassados, destempera o chão amargurado, faz o banheiro aborrecido. Quebra e cozinha os alimentos para o jantar envenenado. Encera aturdida. Limpa oprimida. Come a louça. Desinfeta as panelas revoltadas, aspira o fogão apático, lava e cansa a roupa. Desfaz o brilho dos alimentos para o almoço contaminado. Incendeia a cozinha. Vai embora enlouquecida.


NO DOMINGO

Nem vê passar.

NAQUELA SEGUNDA-FEIRA

Chega às sete horas decidida. Compra sua alforria. Vai embora liberta.

TODOS OS OUTROS DIAS DE SUA VIDA

Escrava da miséria.


Texto publicado originalmente no Scribe.





Leia também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário