A cidade Ilhada, livro de contos de Milton Hatoum - Editora Companhia das Letras

Milton Hatoum, arquiteto de formação, nascido em Manaus, é considerado um dos maiores escritores brasileiros vivos, já faturou prêmios como Jabuti, Bravo! e Portugal Telecom. A Cidade Ilhada é um livro de contos bastante enxutos, escritos de forma extremamente elegante, demonstrando um imenso domínio da linguagem por parte do autor. A obra é composta por 14 contos de temáticas variadas. O primeiro deles,  intitulado A Varanda de Eva, narra a primeira visita de um garoto e seus amigos a um bordel. Falando-se assim, em um primeiro momento, pode parecer que o texto contenha passagens mais picantes, mas não é o que acontece. O ponto alto da narrativa é quando, no final do conto, o jovem narrador descobre quem é a mulher com quem ele teve sua primeira noite. 

A seguir, vem o meu preferido, chamado Uma Estrangeira na Nossa Rua, que conta uma linda história de amor platônico. O narrador retorna, depois de anos, ao local onde morou e conheceu o seu amor de juventude. Nada direi sobre o desenrolar dessa história romântica, tão cheia de desencontros para não estragar a leitura de quem, por ventura, venha a se interessar pelo livro, mas posso dizer que tive muita empatia pelo jovem apaixonado.

Outro conto do qual gostei muito foi O Adeus do Comandante. A narrativa nos traz um personagem chamado Dalberto, que é comandante do barco Princesa Anaíra, e cometeu um assassinato por amor. O homem a quem ele mata não é ninguém menos do que o seu próprio irmão, que mantinha um relacionamento amoroso com sua esposa, a personagem Anaíra, que deu nome ao barco. 

Certamente não falarei de todos os contos aqui, pois o texto ficaria muito extenso, mas não posso deixar de mencionar o conto Dois Tempos. O narrador-protagonista, em suas lembranças de tempos idos, quando fazia aulas de piano, rememora um certo dia, em sua infância, quando morava com seu tio Ran, em que foi assistir a um concerto de sua professora, acompanhado do tio e de uma amiga. Claro que não direi mais, pois em se tratando de uma narrativa curta, as chances de spoiler são grandes, mas garanto que é um lindo conto, cheio de nostalgia, como geralmente são as nossas lembranças de épocas que se foram e não voltam mais.

A maioria dos contos trazem como espaço a cidade de Manaus, fazendo o contraponto entre a miséria e as belezas naturais da região. A narrativa flui de uma forma muito agradável, a ponto de nem percebermos o tempo passar enquanto lemos. Recomendo a obra a todos que busquem uma leitura rápida e leve sem abrir mão da qualidade.


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Parceria com a Editora Fundamento \O/


Queridos amigos e leitores do blog, quero compartilhar com vocês a minha imensa alegria, pois acabo de saber que o nosso blog foi selecionado para parceria com a Editora Fundamento. Acho que nem preciso dizer, vocês devem imaginar como estou feliz, né? Agradeço à Editora Fundamento pela confiança. 


Aproveito a oportunidade para  dizer a vocês que já dei uma passadinha lá na loja virtual da editora.  Fiquei encantada, gente! É o paraíso! Obras de primeira com 30% de desconto. Nem dá para acreditar, né? Quer conferir, clique aqui e faça a festa! 



Meus livros inesquecíveis


Já há algum tempo que penso em fazer uma lista com os livros da minha vida, os melhores que já li, pois é muito comum que as pessoas me peçam sugestões de leitura ou perguntem sobre os meus livros de preferência. Isso para mim é um problema, pois quando penso que a lista já terminou, lembro-me de mais algum que não poderia ficar de fora. Então, para acrescentar mais um, penso em retirar outro, mas não consigo, pois todos que vão para a lista são importantes. Quanto mais penso, mais a lista aumenta. Pretendia que fossem cinco livros, achando que seria o suficiente. Cheguei em dez e ainda faltam livros. Então resolvi deixar assim e, futuramente, fazer listas diversas, agrupando os livros por gênero, temas, períodos, etc. Tenho uma quedinha por clássicos, por isso aparecerão alguns nesta primeira lista. Vamos a ela:

Cem Anos de Solidão, de Gabriel Gacía Márquez
Sinopse: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendia havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer a fábrica de gelo”... Com essa frase antológica, García Marquéz, Prêmio Nobel de Literatura de 1982, introduz a fantástica Macondo, um vilarejo situado em algum recanto do imaginário caribenho, e a saga dos Buendia, cujo patriarca, Aureliano, fez trinta e duas guerras civis... e perdeu todas. Em Macondo, os mortos envelhecem à vista dos vivos e os anjos chegam, sempre, em dezembro. Entretanto, García Marquéz nunca aceitou que suas narrativas fossem rotuladas como fantasia. Talvez porque isso exilasse Macondo num outro mundo, que nem a solidão ou a liberdade pudessem alcançar. Cem Anos De Solidão é a mais pura história do povo latino-americano. Mas ultrapassa o momento e expõe a alma dessa história - ou como é vivenciada.


O Processo, de Franz Kafka
Sinopse: A história de Josef K. atravessa os anos sem perder nada do seu vigor. Ao contrário, a banalização da violência irracional no século XX acrescentou a ela o fascínio dos romances realistas. Na sua luta para descobrir por que o acusam, por quem é acusado e que lei ampara a acusação, K. defronta permanentemente com a impossibilidade de escolher um caminho que lhe pareça sensato ou lógico, pois o processo de que é vítima segue leis próprias: as leis do arbítrio.


Crime e castigo, de Dostoiévski
Sinopse: Um dos maiores romances de todos os tempos, narra a história do estudante Raskólnikov, que, vendo-se na miséria, assassina uma velha usurária e não consegue livrar-se do peso do remorso. Obra da maturidade de Dostoiévski, pela primeira vez traduzida no Brasil diretamente do original russo.





Dom Casmurro, de Machado de Assis
Sinopse: Um romance que ficará pra sempre na memória dos leitores. Conheça o solitário Bentinho e a bela e intrigante Capitu, personagens principais desse grande clássico. Se envolva na trama de amor e paixão entre estes dois antagônicos personagens!




Histórias Extraordinárias, de Edgar Allan Poe
Sinopse: Nestes contos - selecionados e traduzidos por José Paulo Paes - Edgar Allan Poe imaginou algumas das mais conhecidas histórias de terror e suspense da literatura, tramas que migraram da ficção direto para o imaginário coletivo do Ocidente. É o caso de "O gato preto", a tenebrosa história de um assassinato malogrado, ou de "O poço e o pêndulo", que apresenta uma visão macabra da ansiedade da morte. Pioneiro dos contos de mistério, como "A carta roubada" e "O escaravelho de ouro", Poe deu a seus personagens notável profundidade psicológica. Usando de diversos artifícios narrativos inovadores, criava climas e situações aterrorizantes.


O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
Sinopse: Em 1891, quando foi publicado em sua versão final, O retrato de Dorian Gray foi recebido com escândalo, e provocou um intenso debate sobre o papel da arte em relação à moralidade. Alguns anos mais tarde, o livro foi inclusive usado contra o próprio autor em processos judiciais, como evidência de que ele possuía “uma certa tendência” - no caso, a homossexualidade, motivo pelo qual acabou condenado a dois anos de prisão por atentado ao pudor. 
Mais de cem anos depois, porém, o único romance de Oscar Wilde continua sendo lido e debatido no mundo inteiro, e por questões que vão muito além do moralismo do fim do período vitoriano na Inglaterra, definida por um dos personagens do livro como “a terra natal da hipocrisia”. Seu tema central - um personagem que leva uma vida dupla, mantendo uma aparência de virtude enquanto se entrega ao hedonismo mais extremado - tem apelo atemporal e universal, e sua trama se vale de alguns dos traços que notabilizaram a melhor literatura de sua época, como a presença de elementos fantásticos e de grandes reflexões filosóficas, além do senso de humor sagaz e do sarcasmo implacável característicos de Wilde.


Orgulho e preconceito, de Jane Austen
Sinopse: Jane Austen inicia Orgulho e Preconceito com uma das mais célebres frases da literatura inglesa: "É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro e muito rico deve precisar de uma esposa". O livro é o mais famoso da escritora — traz uma série de personagens inesquecíveis e um enredo memorável. Austen nos apresenta Elizabeth Bennet como heroína irresistível e seu pretendente aristocrático, o sr. Darcy. O enredo aborda múltiplos aspectos: o orgulho encontra o preconceito e a ascendência social; equívocos e julgamentos antecipados conduzem alguns personagens ao sofrimento e ao escândalo. Porém, muitos desses conflitos conduzem os personagens ao autoconhecimento e ao amor. O livro pode ser considerado a obra-prima da escritora que, com sua refinada ironia, equilibra comédia e seriedade a uma observação meticulosa das atitudes humanas.


Misto Quente, de Charles Bukowski
Sinopse: O que pode ser pior do que crescer nos Estados Unidos da recessão pós-1929? Ser pobre, de origem alemã, ter muitas espinhas, um pai autoritário beirando a psicopatia, uma mãe passiva e ignorante, nenhuma namorada e, pela frente, apenas a perspectiva de servir de mão-de-obra barata em um mundo cada vez menos propício às pessoas sensíveis e problemáticas. Esta é a história de Henry Chinaski, o protagonista deste romance que é sem dúvida uma das obras mais comoventes e mais lidas de Charles Bukowski (1920-1994).
Verdadeiro romance de formação com toques autobiográficos, Misto-quente (publicado originalmente em 1982) cativa o leitor pela sinceridade e aparente simplicidade com que a história é contada. Estão presentes a ânsia pela dignidade, a busca vã pela verdade e pela liberdade, trabalhadas de tal forma que fazem deste livro um dos melhores romances norte-americanos da segunda metade do século XX. Apesar de ser o quarto romance dos seis que o autor escreveu e de ter sido lançado quando ele já contava mais de sessenta anos, Misto-quente ilumina toda a obra de Bukowski. Pode-se dizer: quem não leu Misto-quente, não leu Bukowski.

Madame Bovary, de Gustav Flaubert
Sinopse: Reconhecido por autores como Henry James como “o romance perfeito”, Madame Bovary é a obra fundamental de Gustave Flaubert (1821-80). Trata-se de um raridade, mesmo em um clássico, um exercício meticuloso de escrita que igualmente desafiava as estruturas literárias e as convenções sociais. Não à toa, a época de lançamento o impacto foi duplo: um sucesso de público e a reação feroz do governo francês, que levou o autor a julgamento sob a acusação de imoralidade. 
Flaubert inventou um estilo totalmente novo e moderno, praticando uma escrita que, ao longo dos cinco anos que levou para terminar o livro, literalmente avançou palavra a palavra. Cada frase devia refletir o esforço em obtê-la, sendo reescrita e reescrita ad infinitum . Mestre do realismo, o autor documenta a paisagem e o cotidiano da segunda metade do século XIX, ironizando os romances sentimentais e folhetins, gêneros que considerava obsoletos. 
A história faz um ataque à burguesia, desmoralizando-a com a descrição exuberante de sua banalidade. Em um tempo em que as mulheres eram submissas, Emma Bovary encontra nos tolos romances dos livros o antídoto para o tédio conjugal e inaugura uma galeria de famosas esposas adúlteras atormentadas na literatura.

Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector
Sinopse: Publicado pela primeira vez em 1971, "Felicidade Clandestina" reúne 25 contos que falam de infância, adolescência e família, mas relatam, acima de tudo, as angústias da alma. Como é comum na obra de Clarice Lispector, a descrição dos ambientes e das personagens perde importância para a revelação de sentimentos mais profundos.



Pai Goriot, de Balzac: uma crítica social - Editora Martin Claret

Em Pai Goriot, Balzac faz uma crítica social, mais especificamente à aristocracia francesa e toda a sua crueldade e cinismo. O romance conta a história de um jovem, estudante de direito que deixa seu local de origem para estudar em Paris. É um rapaz de poucas posses que mora em uma pensão burguesa decadente. Neste lugar conhece o velho solitário, conhecido por pai Goriot. O jovem, que é chamado de Eugène de Rastignac, é extremamente ambicioso e sonha relacionar-se com a aristocracia. Para isto, procura a ajuda de uma prima, a senhora de Beauséant, que o introduz nas altas rodas francesas. Porém, o jovem percebe que não possui roupas à altura das pessoas que frequentam este meio. Resolve, então, pedir ajuda à mãe, à irmã e a uma tia, que não vacilam em mandar-lhe todas as suas economias. Eugène compra roupas novas e investe em seus novos projetos. 

Conhece as filhas de pai Goriot, Delphine e Anastasie e fica sabendo da exploração que o velho sofre por parte das moças, que foram aos poucos consumindo tudo o que o pobre homem possuía, até deixá-lo na mais completa penúria. O senhor Goriot é extremamente dedicado às filhas e seu amor fora do comum faz com que não perceba os fatos como são na realidade, acreditando, ou forçando-se a acreditar, que as filhas o amam do mesmo modo que ele as ama. 
Rastignac acabou por envolver-se com Delphine e, por essa razão, aproximou-se mais de pai Goriot. Aos poucos, porém, o jovem foi tomando cada vez mais consciência da forma desumana com que as filhas tratavam o pai e apiedou-se do velho a ponto de criar-se um envolvimento afetivo entre ambos. Quando as filhas já não tinham mais o que tirar do pai, o velho adoece e é socorrido por Rastignac e por seu amigo, estudante de medicina. 

Mas 
Rastignac também possui as suas ambições. E ao constatar tal fato, o personagemVautrin tenta persuadi-lo a participar de um crime para tirar vantagens financeiras, casando-se com a filha do homem assassinado. Rastignac rejeita a proposta, pois, embora ambicioso, isso não está de acordo com seus princípios. Vautrin tenta convencê-lo utilizando-se da história do mandarim. Pergunta ao jovem se ele tivesse a oportunidade de tirar algum proveito com a morte de um mandarim detestável que só faz mal às pessoas se não o faria. Rastignac repudia tal ideia.

Como não podia deixar de ser, em se tratando de uma obra realista, Balzac nos apresenta uma crítica crua da sociedade, através de relações entre pessoas interesseiras, capazes de elaborar tramas de todo tipo. Mostra-nos a exploração de um pobre velho, pelas próprias filhas, que sequer sentem remorsos pelo que fazem ao pai. O final é triste, mas nos faz refletir profundamente sobre a natureza humana. Este não está entre os livros de que mais gostei, no entanto, posso dizer que é um livro muito bom. Recomendo a obra àqueles que apreciam uma leitura crítica e reflexiva.



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O outro: poema


Só, caminha o ser errante,
envolto em sombra desolada.
O peito sangra, golpe de espada.
Sofre por não conseguir ver
aquele a quem segue nas sombras.
Quem é? Ah, quem é aquele em cuja fronte
se esconde um rosto que ninguém mais viu?
Quem é o outro que bebe da fonte
o raro néctar que ninguém bebeu?
E quando juntos na dor degustavam,
já não sabiam, quando se encontravam,
quem era o outro, “será  ele ou eu?”

Origem: Um segredo que pode ser nossa destruição, de J. T. Brannan - Editora Jangada


Houve uma época da minha vida, em que lia muita ficção científica. Com o tempo, comecei a priorizar outras leituras e acabei deixando essas um pouco de lado. Não que tenha deixado de gostar, ao contrário, mas é que todos passamos por diferentes fases, e essas fases ajudam a determinar os nossos interesses, inclusive literários. Depois de um tempo considerável, eis que me deparo com um livro de ficção científica que mexeu com a minha curiosidade. O livro é  Origem: Um segredo que pode ser a nossa destruição, de J.T. Brannan. Então, nas minhas últimas compras literárias de 2015, mandei buscar o dito livro. 

A obra narra uma expedição de cientistas à Antártida para fins de pesquisa sobre o processo acelerado de derretimento da geleira. Nessa expedição, a pesquisadora Evelyn Edwards e sua equipe descobrem, após a queda de um dos cientistas em uma crista, bem próximo a um abismo, um corpo que possui mais de 40 mil anos. Ao informarem aos seus superiores sobre o que encontraram, são orientados a deixarem o local no outro dia, bem cedo. Então, a equipe surpreende-se ao perceber que quem vai buscá-los na Antártida é o exército americano, sob a alegação de que somente eles conseguiriam chegar lá tão rápido. E a partir daí, inicia o pesadelo de Evelyn e sua equipe, que passam a ser alvos de uma tentativa de queima de arquivo, sendo perseguidos por alguém que não quer que o segredo acerca do corpo congelado venha à tona. A pesquisadora escapa com vida e pede ajuda ao ex-marido, Matt Adams, que havia pertencido a uma unidade de elite do governo. E assim, os dois envolvem-se na investigação sobre uma conspiração que pode ser trágica para a humanidade.

É um livro bastante dinâmico (tirando umas poucas passagens um pouco mais cansativas), cheio de conspirações e fugas, que prendem a nossa atenção e fazem com que seja uma leitura relativamente rápida (li o livro em uma madrugada). Há muitos elementos históricos presentes na obra, o que pode cansar um pouco quem não aprecia, não é o meu caso, pois eu gosto muito. Não posso dizer que o livro tenha me surpreendido, mas também não me decepcionou. Digamos que atendeu às minhas expectativas e eu gostei bastante. Gostei muito do clima de romance que surgiu entre Evelyn e Matt, que haviam se separado por causa de projetos de vida incompatíveis, mas ainda se amavam. Quanto ao final, foi satisfatório. Recomendo o livro a todos que curtem uma leitura cheia de conspirações e grandes aventuras.




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Sua voz dentro de mim, relato corajoso de Emma Forrest - Editora Rocco

Sua voz dentro de mim, de Emma Forrest, foi, de certa forma, uma grata surpresa. Não que eu esperasse pouco do livro, ao contrário, já imaginava que seria bom, mas a obra ultrapassou todas as minhas expectativas. Quando comecei a ler, sabia que se tratava de uma história real, sabia que encontraria o relato de uma mulher diagnosticada com bulimia e transtorno maníaco-depressivo, uma mulher emocionalmente frágil e vulnerável, que se propunha a abrir a alma em um relato sincero e corajoso. O que não sabia era que tinha em mãos um livro que me marcaria para sempre pela sua grandeza e humanidade. Inicialmente, parecia ser apenas mais um livro que, como todos os outros, possui seus altos e baixos, seus momentos de fluidez alternados com outros bem menos interessantes. Até que, na página 140, o livro me ganhou para sempre.

Emma Forrest é uma jovem que, apesar de possuir o emprego dos sonhos de muitos, pois sendo jornalista desde os 16, aos 22 já escrevia para o jornal inglês The Guardian, escondia uma alma atormentada por uma enfermidade emocional que teve origem em um estupro sofrido aos 16 anos. Após uma tentativa de suicídio, Emma inicia o tratamento com o psiquiatra, a quem ela chama no livro de Dr. R, que morreu de câncer em meio a uma das piores crises de Emma, o rompimento de seu relacionamento com o ator hollywoodiano Colin Farrel, chamado no livro de MC (marido cigano). Conforme narra a sua história, a autora homenageia esse médico que tanto a ajudou, inclusive trazendo pequenos relatos de outros pacientes dele. 

Bem, vamos à pergunta que não quer calar: por que o livro me "pegou" para sempre na página 140?  Tentarei responder sem spoiler (difícil, mas vamos lá!). Como disse anteriormente, Emma perdeu o seu psiquiatra para um câncer bem no momento em que enfrentava o término de um relacionamento. Sentindo-se desamparada, enche a banheira, pega o frasco de comprimidos, e prepara-se para mais uma tentativa de suicídio. Então, nesse momento, ela ouve a voz de Dr. R pedindo que espere, que não faça isso. Aqui aparece, claramente, a razão pela qual o médico mereceu ser homenageado nesta obra. Seu tratamento havia deixado marcas em Emma, marcas que a salvaram mesmo depois de sua morte. "Se eu fizer isso, a morte do Dr. R terá sido em vão."

 Pelo tema abordado no livro, podemos até achar que se trata de uma leitura pesada. O que não é verdade, pois a escrita de Emma é extremamente leve e agradável, ainda que trate de algo com tamanha seriedade e carga emocional. Em 2013 saiu  notícia de que o livro viraria filme, cujo roteiro seria escrito pela própria Emma Forrest, que hoje trabalha como roteirista em Hollywood. Emma Watsom protagonizaria o filme. Recomendo a leitura de Sua voz dentro de mim a todos que queiram entender um pouco mais sobre a alma humana e suas dores. Sobre a capacidade que temos de superar nossos problemas emocionais, por piores que sejam.



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Vidas Secas, de Graciliano Ramos: o humano em sua essência - Editora Record

A obra modernista Vidas Secas, de Graciliano Ramos, narra a saga de uma família de retirantes sertanejos que tenta sobreviver à crueldade da seca. O casal, Fabiano e sinhá Vitória, com seus dois filhos e a cachorra Baleia veem-se obrigados a um constante deslocamento em busca de um lugar melhor para viver e fugir de uma vida miserável. A história é narrada em terceira pessoa, aliás, esse é o único livro do autor com esse foco narrativo. Na verdade, tal escolha se deve à total incapacidade de qualquer dos personagens contarem a própria história de uma forma minimamente satisfatória, por possuírem uma articulação verbal extremamente precária, resultado da vida sacrificada e sem recursos que levam. 

A comunicação entre os integrantes da família dá-se, frequentemente, através da emissão de sons guturais. No entanto, por detrás de toda essa precariedade vocabular, percebemos uma imensa riqueza interior em Fabiano, que não consegue expressar essa profundidade por não saber como se articular. Fabiano apercebe-se de suas limitações, e seu dilema aparece em momentos em que se define como homem e, em outros, como bicho, oscilando entre orgulho e vergonha: “Fabiano, você é um homem”, “Você é um bicho, Fabiano”. E os limites entre homem e bicho tornam-se ainda mais tênues quando, ao ser recebido a lambidas pela cachorra Baleia, Fabiano, enternecido, diz: “Você é um bicho, Baleia”. É interessante observar, também, que os dois filhos não têm um nome na história, são chamados de “menino mais novo” e “menino mais velho”, mas a cachorra, o bicho, possui um nome, Baleia, e, assim como os meninos, um capítulo só para ela. A cachorra, na trama, é quase humana, e além dela, tem o papagaio que não fala, só late porque é o único som que escuta. 

Tudo isso é vivenciado no sertão, um espaço de extrema hostilidade ocasionada pelas chuvas escassas e irregulares, esquecido pelos governantes, sem nenhum investimento social. Mas apesar de toda essa miséria, Fabiano consegue exercer um bom domínio de seu ambiente, o que lhe confere uma autoimagem, até certo ponto, digna. Vidas Secas é, sem dúvidas, um dos melhores livros que já li. O autor demonstra um domínio ímpar da linguagem, digno de um mestre da escrita, além de uma imensa sensibilidade e percepção da natureza humana, aliás, o humano aparece aqui em pura essência. Recomendo o livro a todos que pretendem fazer a leitura de uma verdadeira obra de arte literária.




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A 5ª Onda: adaptação literária para o cinema

 A 5ª Onda: adaptação literária para o cinema A 5ª Onda: adaptação literária para o cinema

Não costumo falar sobre um livro cuja leitura ainda não tenha sido acabada. No entanto, preciso compartilhar o meu contentamento com a leitura iniciada (já na página 115) do livro A 5ª Onda, de Rick Yancey, publicado pela Editora Fundamento. Gostei tanto que já encomendei O Mar Infinito, continuação da série, do mesmo autor e mesma editora. Brevemente haverá resenha dos dois por aqui! 

No final do ano passado, tive a oportunidade de ler alguns posts que anunciavam o lançamento do filme. Interessei-me imensamente, e decidi ler a obra antes de ver o filme. Posso dizer que não me arrependo! A leitura só tem feito com que eu me interesse ainda mais pelo filme, cujo lançamento está marcado par o dia 21 de Janeiro. O livro está belíssimo, a capa e a sobrecapa apresentam-nos pôsteres do filme. Adorei!

 A 5ª Onda: adaptação literária para o cinema


 Abaixo, deixo a sinopse do filme, algumas curiosidades sobre ele e o trailer, para aqueles que ainda estiverem indecisos.

Sinopse:
A Terra repentinamente sofre uma série de ataques alienígenas.
Na primeira onda de ataques, um pulso eletromagnético retira a eletricidade do planeta. Na segunda onda, um tsunami gigantesco mata 40% da população. Na terceira onda, os pássaros passam a transmitir um vírus que mata 97% das pessoas que resistiram aos ataques anteriores. Na quarta onda, os próprios alienígenas se infiltram entre os humanos restantes, espalhando a dúvida entre todos.
Com a proximidade cada vez maior da quinta onda, que promete exterminar de vez a raça humana, a adolescente Cassie Sullivan (Chloe Grace Moretz) precisa proteger seu irmão mais novo e descobrir em quem pode confiar.



Curiosidades sobre o filme:
– A atriz Chloe Grace Moretz que interpretou a protagonista de A 5ª Onda também fez parte do filme Se Eu Ficar.


– O vilão da história foi interpretado por Liev Schreiber, que fez o irmão do Wolverine em um dos filme do X-Men.


– Os livros A 5ª Onda e O Mar Infinito estão na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times


– A 5ª Onda é indicado para os fãs de Jogos Vorazes e Divergente
– O terceiro livro da trilogia A 5ª Onda será lançado no exterior em Maio do ano que vem. Aqui ainda não temos previsão de lançamento. 





 A 5ª Onda: adaptação literária para o cinema

Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque: perfeito para ler com as crianças nas férias - Editora José Olympio

Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque: perfeito para ler com as crianças nas férias - Editora José OlympioO período de férias escolares costuma ser uma época do ano em que os pais precisam se desdobrar para manter os pimpolhos ocupados, livres do tédio. Na era da tecnologia, temos alguns aliados nesse sentido, porém, se quisermos que os pequenos cresçam de uma forma saudável, devemos proporcionar a eles outras alternativas, como cinema, teatro, parques e passeios variados com os pais, além de, claro, muita leitura compartilhada com as crianças. Nada melhor para uma criança do que ouvir uma história contada pelo pai, mãe ou qualquer outro adulto que faça parte da sua vida. É encantador vê-los tentando "ler" as gravuras para contar histórias para nós. É uma forma excelente de fortalecer os vínculos entre adultos e crianças.

Quem me conhece, sabe que sou apaixonada por literatura infantil, e entre os meus preferidos está Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, com ilustrações de Ziraldo. O livro já começa a conquistar adultos e crianças pela capa, que é uma belezura. Ao folhearmos o livro, a paixão só faz aumentar, pois as ilustrações são belíssimas, cada imagem é um poema, de tão linda. As gravuras, em um livro infantil, ajudam bastante no sentido de atrair crianças que ainda não foram alfabetizadas, pois elas podem "ler" as gravuras e interpretar o livro do seu jeito. Acredite, os pequenos gostam muito disso! 


Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque: perfeito para ler com as crianças nas férias - Editora José OlympioChapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque: perfeito para ler com as crianças nas férias - Editora José Olympio


Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque: perfeito para ler com as crianças nas férias - Editora José Olympio

Ok, as gravuras são ótimas, mas e a história? Gente, a história é uma obra-prima! Trata do medo que uma certa menina, chamada Chapeuzinho Amarelo, sente de todas as coisas, representando os medos infantis. No decorrer da narrativa, a menina vai processando esses medos, até encontrar um modo de superá-los. Um dos pontos altos da obra é a forma como o autor brinca com as palavras, fazendo jogos que estimulam a percepção fonética das crianças, o que, certamente, contribuirá para que, no futuro,  elas tenham um bom domínio da linguagem. Recomendo o livro a todos que pretendam desfrutar de bons momentos literários com filhos, sobrinhos, netos ou afilhados.



Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque: perfeito para ler com as crianças nas férias - Editora José Olympio

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Animus e Anima, de Emma Jung: os opostos que vivem em nós - Editora Cultrix


 Todos nós, em algum momento, já ouvimos falar em Sigmund Freud ou em alguma de suas teorias do inconsciente, como o complexo de Édipo, por exemplo, que se tornou bastante popular. Um pouco menos mencionado pelo grande público, mas não menos importante, o psiquiatra Carl Gustav Jung, que foi discípulo de Freud, mas rompeu com o mestre para seguir o seu próprio caminho, desenvolveu o conceito de animus e anima, que nada mais são do que aspectos inconscientes de um indivíduo, em oposição à consciência. É o que chamamos popularmente de "lado feminino" do homem e "lado masculino" da mulher. Masculino e feminino são tratados aqui, não como gênero, mas como polaridades com características próprias.

Em sua obra, Animus e Anima,  Emma Jung, esposa de C.G. Jung e também psiquiatra, apresenta-nos dois excelentes ensaios sobre o assunto. O primeiro, intitulado Uma contribuição ao problema do animus, mostra-nos como essas características femininas atuam na psique masculina; o segundo, denominado A anima como ser natural, apresenta-nos, ao contrário do caso anterior, a influência dos aspectos masculinos na psique feminina. Esse outro lado, feminino no homem e masculino na mulher, formam-se a partir de nossas experiências com o sexo oposto, desde a mais tenra infância. A mãe, as tias, as avós, ou quaisquer outras mulheres que convivam com o menino, e o pai, os tios, os avôs e os demais homens que façam parte da vida da menina poderão contribuir na formação do animus e da anima. Por outro lado, esses aspectos, nos adultos, determinam a escolha dos parceiros amorosos, o que pode servir para explicar o famoso "dedo podre" de algumas pessoas. 

Recomendo o livro para todos aqueles que quiserem saber um pouco mais a respeito de si mesmos, pois é uma leitura bastante reveladora. Quem nunca se perguntou por que repete sempre o mesmo padrão (e os mesmos erros) no que se refere à escolha do(a) parceiro(a)? Um dos grandes méritos da obra é tratar de um tema complexo, de forma extremamente acessível mas sem cair na armadilha das simplificações. É um livro pequeno, pouco mais de 100 páginas, mas grande na qualidade. Embora teórico, pode ser lido, tranquilamente em um ou dois dias. Trata-se, sem sombra de dúvidas, de uma obra prima da literatura psi. 


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A vida em verso e reverso: reflexões sobre o ano que inicia

Quem de nós já não passou por momentos de profunda tristeza ao se deparar com os reveses da vida? Quem já não chorou sozinho, tendo por única testemunha o travesseiro? Embora sejamos criaturas únicas, há sentimentos que são comuns a todos nós, e as tristezas e decepções estão entre esses sentimentos. Mas o desejo de recomeçar, a vontade de superar mágoas antigas (algumas nem tanto), a fé na vida e em um futuro que nos recompense e nos traga algum alento também são sentimentos comuns a todos nós, e estes nos movem em direção a um caminho de busca pela felicidade e pela realização de nossos sonhos. 

Talvez seguindo internamente um modelo que a própria natureza nos traz, sabemos que dentro de nós também haverá sempre um sol que brilhará após uma noite escura, que mesmo nas piores tempestades, esse sol estará esperando que as nuvens se dissipem para aquecer a nossa alma novamente. É o princípio da esperança que nos move, que faz com que nos levantemos a cada dia. E eis que, após as lágrimas, esse sol volta a brilhar na luz dos nossos olhos, ou em um sorriso aberto e sincero.

Não é à toa que, para a maioria de nós, comemorar o Ano Novo é algo tão importante, embora saibamos que o dia primeiro de janeiro nada mais é do que um dia como qualquer outro, que vem após o 31 de dezembro. Mas utilizamos essa data como um símbolo de recomeço e da esperança que temos em um futuro melhor. Uma espécie de ritual de passagem. Pensei muito sobre o que desejo que o próximo ano represente, não só para mim e minha família, mas para o mundo. Só coisas boas, claro. Então dei-me conta de que não há um só dia que não traga a sua noite, de que os dias nublados fazem parte da vida, tanto quanto os ensolarados. Por isso, desejo sim que o ano que inicia seja abençoado para todos nós, repleto de realizações e felicidade, mas desejo também, que tenhamos força, clareza e lucidez suficientes para enfrentar os momentos mais difíceis, pois certamente eles existirão. Espero que possamos usufruir cada verso desse poema chamado vida, mas que saibamos manter o equilíbrio quando essa mesma vida nos apresentar o seu reverso.